A culpa que o consumo traz em tempos de quarentena

A culpa que o consumo traz em tempos de quarentena

Antes da quarentena chegar, estávamos trazendo uma série de tendências por aqui. E em nosso mapeamento já esperávamos nos aprofundar em um tópico que supera o calor do momento: a preocupação com o impacto social e ambiental a partir do consumo.

Agora a discussão ganha outros horizontes. Com o Covid-19, a maioria de nós está em casa e essa condição eleva a nossa reflexão à respeito do que estamos comprando. Estar em isolamento social também nos coloca como responsáveis de nossas próprias necessidades. Sejam elas necessidades humanas básicas, como a forma que nos alimentamos e o lixo que geramos, ou desejos supérfluos, como o consumo de roupas, por exemplo. 

É esse senso de responsabilidade que nos traz a clareza de como deixamos rastros por onde passamos. E daí pode nascer a culpa vinda pelos eventuais excessos que cometemos. Precisamos mesmo de mais peças de roupas? Quais itens podemos consumir e o que podemos fazer para gerar menos lixo? 

Segundo o relatório do Trendwatching sobre o Futuro das Experiências, movimentos que promovem a diminuição do uso de descartáveis plásticos que ganharam o mundo no ano passado – e chegaram em 2019 no Brasil – aumentaram a conscientização do consumidor sobre o impacto do que consomem no mundo. 

Não é só deixar de usar canudos ou sacolinhas de plástico: é diminuir o máximo possível o uso de materiais que acabam no lixo. Isso leva restaurantes, bares, hotéis e também a indústria e pequenos produtores a repensarem o tipo de materiais que usam em seus estabelecimentos ou até a repensarem a necessidade desses materiais.

Durante a quarentena, em geral, também temos consumido mais delivery. Sacos de papel, sacolas, embalagens para guardanapo, sachês, suportes. Muitas são as soluções para entregar o produto de forma apresentável e até impressionar. Mas o que realmente é necessário? Como os restaurantes que escolhemos se comportam com a quantidade de lixo gerado nessa experiência? Isso faz diferença para você? E como temos destinado todo esse lixo?

Repensando produtos e experiências mais sustentáveis antes da quarentena

A empresa Hi Fly diminuiu o uso de plásticos no voo usando utensílios de bambu

A empresa aérea Hi Fly, por exemplo, fez em 2018 o primeiro voo livre de plásticos de Portugal para o Brasil. Os talheres descartáveis foram substituídos por versões de bambu e outras alternativas biodegradáveis. 

As universidades também estão investindo e pesquisas para encontrar alternativas ao uso de plástico, como a Universidade do Nilo, no Egito, onde pesquisadores desenvolveram um plástico feito de casca de camarão, que é biodegradável e uma alternativa mais sustentável para fazer sacolas e embalagens para comidas. 

Lixeiras da rede Better Burger indicando que as embalagens são compostáveis

Better Burger, uma hamburgueria neozelandesa no melhor estilo fast food e com um pé na conscientização, usa materiais compostáveis, com nutrientes ricos ao solo, em todas as embalagens que acompanham seus lanches. 

As condições sociais de trabalho são fundamentais

Indo além do lixo, as pessoas se preocupam cada vez mais com as condições da produção daquilo que consomem. Buscamos ir fundo na origem do que compramos para saber como as coisas foram feitas, quem fez, como fez, se alguém (pessoa ou animal) foi explorado durante a produção ou não. Se os entregadores dos aplicativos que utilizamos trabalham em condições adequadas e etc.

Outro fator a se considerar é se o produtor/marca que conhecemos favorece uma iniciativa independente ou local. Nesse momento, essa decisão faz ainda mais diferença. Escolher consumir um hambúrguer de uma lanchonete próxima a sua casa tem um impacto muito diferente do que consumir de uma grande rede fast food, certo?

Em São Paulo, a hamburgueria Patties está ajudando o seu mercado vizinho durante a pandemia. Por meio da Collab Vizinho, o Patties comprou todos os chocolates do Mercadinho Lira e colocou para revender em seu perfil no aplicativo de entrega. Dessas vendas, todo o lucro será revertido de volta ao mercadinho. Um ótimo exemplo de dois comerciantes pequenos que se uniram para enfrentar essa crise.

Consumir é um ato político e também é sobre as ideias que estamos apoiando. Nunca foi tão palpável notar que comprar um produto também é comprar um propósito e sustentar uma lógica de produção. E, talvez, esse novo hábito de “pensar duas vezes” antes de comprar, reforçado durante a quarentena, pode ser o início de uma fase próspera à nossa sociedade. Não é só sobre culpa, mas também sobre transformar um comportamento viciado.

A preocupação com o impacto do consumo no mundo é uma realidade. Hoje o consumidor sabe que uma boa experiência não está atrelada a compra desvairada de produtos ou materiais. Muito pelo contrário.

Com isso, as marcas devem (re)pensar, assim como os seus consumidores. Não apenas os produtos, mas também a cadeia como um todo e as experiências que desejam proporcionar. A Black Friday, por exemplo, já tem ganhado novas abordagens a partir de perspectivas mais conscientes para o consumo. No final das contas, é o famoso menos é mais: menos culpa ao consumir, mais impacto social positivo.

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